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Martin Hilbert: “A maioria dos indivíduos da espécie humana confia sua vida à Inteligência Artificial, todos os dias”

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Seu site leva seu nome e nele estão disponíveis todas os posts e estudos nos quais trabalhou, seus vídeos, entrevistas e publicações científicas, além, é claro de conteúdo de redes sociais. Nosso entrevistado é, provavelmente, o “peixe” mais estranho nas águas de TICAL e do Encontro de e-Ciência pois, diferentemente de todos os que até hoje passaram pelas sessões plenárias, ele não vem do mundo das tecnologias nem das ciências “duras”, mas das humanas; é professor de Comunicação da Universidade da Califórnia (Davis, Estados Unidos). Esta é a uma das atividades de Martin Hilbert, especialista em Big Data que irá a TICAL2018 para compartilhar sua experiência na utilização do big data para o desenvolvimento de modelos complexos e políticas públicas.

María José López Pourailly

Você é proveniente do mundo das Humanas; jornalista, sociólogo, doutor em Economia e Ciências Sociais. Como, por que e em que momento você começou a integrar o big data em seu trabalho e vida?

Quando iniciei este trabalho na CEPAL (Comissão Regional para a América Latina e o Caribe, das Nações Unidas), um dos primeiros passos foi criar um Observatório para a Sociedade da Informação (chamamos de OSILAC), criando indicadores para medir as TIC, trabalhando em conjunto com as INEs da região. Alguns desses indicadores foram inclusive adotados pela Comissão de Estatística das Nações Unidas, para uma coleta global. Eu percebi que quando você tem dados do mundo, é inútil pensar em como exatamente você quer mudar o mundo. Ao fazê-lo, você permanece no mundo das ideias, sem atê-lo à realidade.

Mais de alguma vez alguém já deve ter dito que parece estranho ou curioso encontrar uma pessoa proveniente do mundo das Humanidades trabalhando e fazendo um uso tão interessante e eficiente do big data para análises profundamente associadas com a vida das pessoas e o decurso das políticas sociais. Você concorda que esse ‘intercâmbio’ é curioso?

O que é tradicionalmente chamado de "humanas" agora está se tornando ciência. Nós, que éramos uma arte, nos tornamos ciência. Tradicionalmente, quando se podia explicar 15% da variação em algum estudo social/ econômico/político, podia publicar nas revistas científicas mais conceituadas do mundo. 15%!? Como é possível fazer políticas públicas com base na compreensão de 15%? Nós não éramos ciência, éramos mais arte que ciência.

Agora, com mais de 99% de toda a informação tecnologicamente mediada em formato digital e uma penetração móvel de 98% em todo o mundo, a digitalização da interação humana produz uma impressionante pegada digital da sociedade. Isso transformou as ciências sociais e as ciências econômicas tradicionalmente pobres em dados na área mais completa de evidências empíricas até hoje. Os físicos não sabem quantas estrelas existem no Universo, e os biólogos não sabem onde estão os peixes no oceano. Nossos 7,5 bilhões de sujeitos de estudo, todos carregam um sensor de localização no bolso, e sabemos em cada segundo onde eles estão. Eles registram a maioria das transações comerciais com uma pegada financeira e nos dizem quais são seus amigos e o que eles comunicam com eles. Com isso podemos prever com uma precisão de 85-90%, suas ações futuras. Por exemplo, sabendo a quais bases radiais seu celular estava conectado, posso prever com 90% de precisão onde você estará amanhã à tarde e no próximo ano. Isso começa a ser ciência.

O que mais te seduz no trabalho de análise de dados?

Entender a sociedade e como ela funciona, para ver como podemos melhorá-la.

Em matéria de desenvolvimento de políticas públicas e assessoria a governos nesta linha, você já percorreu um longo caminho. A partir disso, como explicaria ao mundo no qual você trabalha a importância do big data para a geração de políticas que afetam a vida de todos os  seres humanos e os caminhos empreendidos pelos governos para melhorar as condições de vida de seus cidadãos?

O mais importante no que diz respeito ao trabalho com os dados massivos, não são os dados, mas os algoritmos, que resumem os padrões nos dados. Em outras palavras, é o conhecimento que você pode extrair dos dados. Descubra os padrões por trás deles, veja a sombra do mecanismo que criou os dados, um mecanismo que forma a realidade que vemos. Os dados são a sombra na caverna de Platão. Estamos interessados no que gerou os dados, o mecanismo por trás dessa geração; é o conhecimento de como o mundo funciona e é para isso que este paradigma atual leva: o conhecimento.

Estamos em transição da sociedade da informação para a sociedade do conhecimento. Um algoritmo é conhecimento. A era digital teve três fases, a primeira foi a comunicação (telefones e Internet nos anos 90 e 2000), a segunda, a informação (redes sociais e big data), estamos entrando agora na era do conhecimento, algoritmos (aprendizado de máquina e inteligência artificial). O desenvolvimento é um processo de conhecimento. Como você pode querer melhorar as condições de vida dos cidadãos sem conhecimento? Hoje, as cinco empresas mais valiosas do mundo trabalham com essa questão. Um par de anos atrás, estes ainda eram gigantes petrolíferos ou industriais. Hoje, porém, são empresa de dados e machine learning, com dados da sociedade. Então, para mim, esta questão está no coração do desenvolvimento de uma sociedade.

O que há ou deveria haver de estratégico na gestão das redes sociais para as instituições universitárias, os governos e as organizações comunitárias?

Eu acho que toda a sociedade deveria refletir um pouco mais sobre o uso efetivo das redes sociais. Aquelas mais dominantes hoje em dia não são assim tão sociais; são primordialmente comerciais. Originalmente, foi uma ambição quase socialista que levou o Vale do Silício a criar serviços gratuitos para todos. E é verdade, hoje você pode usar o Facebook gratuitamente, como o YouTube. Mas, no final, para torná-lo viável, eles se venderam completamente para os comerciais e criaram a máquina capitalista mais controladora que já vimos na história. O resultado foi que toda comunicação entre você e eu é mediada por interesses comerciais ferozes.

Isso é muito diferente de um modelo tradicional de meios de comunicação, no qual se paga uma taxa mensal para falar por telefone e onde não há distorção, ou no caso da televisão pública, que não é objeto de interesses comerciais, ou pelo menos não dependia complemente disso. Facebook e Google são completamente dependentes de comerciais e isso não lhes deixa muita flexibilidade. Temos que repensar se não era melhor quando pagávamos pelo telefone fixo, mas com a garantia de que ninguém iria distorcer nossa comunicação para fins comerciais.

A partir de uma ótica sociológica, é possível compreender o mundo atual sem as TIC? Por que? 

Neste momento, a maioria dos indivíduos da espécie humana confia sua vida à inteligência artificial, todos os dias. Por exemplo, confiando no sistema de freios antitravamento em automóveis (ABS) ou em pilotos automáticos em aeronaves. A principal fonte de energia da humanidade (a rede elétrica) está completamente nas mãos da inteligência artificial; três de cada quatro transações na maior bolsa de recursos do homo sapiens (o mercado dos EUA) são executadas por algoritmos de negociação automatizados; e com um em cada três casamentos nos Estados Unidos começando on-line, os algoritmos digitais também começaram a ter um papel inegável no acasalamento sexual e na herança genética da humanidade.

Se você me dissesse, “Martin, encontramos uma espécie extraterrestre, e descobriu-se que este povo delegou às máquinas quase todas as suas decisões de distribuição de energia, 3/4 de suas decisões de alocação de recursos e uma média de 1/3 de sua decisão de procriação, seria difícil negar o quão imprescindíveis são essas máquinas para essa espécie. Nós somos esta espécie. Não há necessidade de um chip no cérebro (embora esteja a caminho). Em um nível sociológico, já nos fundimos com a inteligência artificial.

Quais são suas expectativas com respeito à participação em TICAL? O que podemos esperar de sua apresentação?

Eu quero aprender com os desafios de vocês! Acabei de voltar da 6ª Conferência Ministerial sobre a Sociedade da Informação da América Latina e do Caribe (eLAC2020), que também aconteceu no Hotel Las Americas, em Cartagena. 26 governos, 23 da região, com quase 1.000 delegados, discutiram os temas da sexta versão do Plano de Ação Regional eLAC. A discussão incluiu tópicos como blockchain, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Quando escrevi a primeira versão do eLAC, em uma tarde de domingo em 2003, eu nunca teria imaginado que 15 anos depois esse plano ainda existiria e que eu me preocuparia com questões como essas! Mas a questão é mais forte e mais importante do que nunca, e há sempre novas questões na agenda. Então, já estou ansioso para ver o que posso aprender em TICAL2018!

Conheça melhor a Martin Hilbert:

  • http://www.martinhilbert.net/category/in-the-news/
  • http://www.theclinic.cl/2017/01/19/martin-hilbert-experto-redes-digitales-obama-trump-usaron-big-data-lavar-cerebros/
  • http://www.theclinic.cl/2018/04/18/martin-hilbert-escandalo-facebook-estamos-atacando-los-sintomas-no-la-enfermedad/

 

 

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